sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Nem Sempre o que Parece É

Nem sempre quando pareço estar estou,
Mas na maioria das vezes é quando não pareço estar
Que realmente estou...

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

FOME

Fome de sabor,
Fome de odor,
Fome de calor,
Fome de tremor,
Fome de ardor...
F O M E

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

ALGUÉM

Não quero ser só mais uma para alguém,
Quero ser "ALGUÉM" no mundo de outrem.
Desejo viver uma alegria jamais sentida por ninguém,
E realizar fantasias que me farão ir muito mais além.

Terra do Nunca

Mariana morava numa cidadizinha pequena. Sua família não tinha posses, mas nunca faltou comida na mesa. Sua maior alegria era quando pegava sua bicicleta roxa e saia para suas aventuras com sua turma de amigas. Como era bom encontrar uma baixada, acelerar, soltar as mãos do guidom da bicicleta e sentir a brisa da liberdade em seu rosto.

O gosto pelo perigo e pela aventura era forte e um belo dia decidiram explorar o que havia após o limite da fronteira da cidade. A excitação do inesperado era deliciosamente fascinante e ao mesmo tempo amedrontadora. Era a primeira vez que as meninas iriam para um lugar onde ninguém as vigiasse.

Depois de algum tempo de pedalada, pararam em um morro de onde avistavam a cidade toda e de onde nunca tinham ousada passar. Nesse instante houve um silêncio profundo e as amigas se olharam como se naquele momento firmassem um pacto de cumplicidade eterna. Tomaram impulso, pois a subida era absurdamente inclinada, e prosseguiram.

Passado um tempo, avistaram em meio a uma poeira que tomava todo o espaço estreito da estrada, uma caminhonete em alta velocidade. Mariana e suas amigas se viram sem saída e atordoadas por um pavor nunca antes sentido que as deixou estáticas.

A caminhonete antiga e de vidros escuros se aproximou das meninas com a mesma velocidade com que seus corações batiam. E a medida que o vidro da janela do Ford ia baixando aparecia a figura rústica e castigada de um velho. Nesse instante as meninas respiraram aliviadas pois naquele reconheceram o senhor Ananias, o dono da padaria mais famosa da cidade. 

 — O que vocês fazem aqui meninas? Não sabem que é perigoso andarem sozinhas por essas bandas. 

Mariana ainda com a sensação de alívio que tomou conta de seu corpo pequenino respondeu com alegria:

— Só estávamos avistando a cidade do alto senhor Ananias. 

E o velho, como uma espada impiedosa, lançou a pergunta que a fez sentir o arrepio de outrora. 

— Seus pais sabem por onde andam?

Nesse momento, todas se olharam como querendo reafirmar o pacto realizado no início da aventura. E Mariana, com toda firmeza de uma atriz de teatro respondeu.

 — Claro que sim. E já estamos voltando, pois a mãe da Lilí disse para não demorarmos, porque iria fazer um bolo de chocolate para comermos no lanche. 

Com um olhar de desconfiança o velho fez sinal de adeus, fechou o vidro do carro e prosseguiu sua viagem. As meninas, persebendo que o dono da padaria havia reduzido a velocidade, certamente para confirmar a versão recebida, pedalaram de volta para a cidade. Somente quando adentraram nos limites da cidadizinha é que o velho retomou a velocidade normal.

As meninas seguiram para uma pracinha ao lado da casa de Lilí onde puderam se recuperar do susto. Passaram vários dias receosas de que o velho Ananias pudesse comentar o acontecido com alguém ou pior com seus pais.

Mas o que elas jamais imaginariam é que o menino que ainda habita a alma daquele senhor de cabelos grisalhos, naquele dia, sentiu uma inveja e uma grande admiração por aquele grupo de meninas e principalmente por Mariana que se mostrou tão segura de sí. Pois elas estavam fazendo o que ele, que também nasceu e passou sua infância naquela cidadizinha, sempre teve vontade de fazer, mas nunca teve coragem — explorar um mundo cheio de aventuras. Naquele momento, o velho se viu com sete anos de idade novamente pedalando sua bicicleta verde bandeira.

Desde então, toda vez que as meninas se cruzavam com o velho Ananias em seus olhos surgia o medo da delação e em contrapartida nos olhos dele surgia o desejo de saber se as meninas já haviam conseguido adentrar naquele mundo tão sonhado por ele. Embora tenham adiado a busca pelo desconhecido, todos os dias, as meninas formulavam planos infalíveis que mais cedo ou mais tarde as levariam à Terra do Nunca.